segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A Dona Maria Luisa

Como aqui já disse vezes sem conta, uma das melhores coisas da minha profissão (sou jornalista, para quem ainda não sabe), senão mesmo a mais gratificante, são as pessoas que se conhecem que de outra forma não tinham como entrar na nossa vida, ainda que por breves instantes. Na semana passada, por causa de uma reportagem que fiz acerca de condutores séniores, conheci uma senhora de 79 anos, de porte elegante e uma energia que põe qualquer um de nós, que nos dizemos no activo, a um canto. A Dona Maria Luisa tirou a carta aos 50 anos e só por isso já merece uma vénia. Disse-me que antes nunca tinha sentido necessidade de ter a carta e só quando percebeu que os pais estavam a ficar de facto muito idosos é que viu que tinha que arranjar maneira de poder chegar a eles mais facilmente. Hoje, com 79 anos, conduz todos os dias, nem que seja para ir ao pão. Ali estava ela a participar num seminário sobre segurança rodoviária e truques para conduzir durante mais tempo e bem. Apontava tudo num caderno, como forma de manter a concentração e treinar a memória, disse-me, e não ficava por ali. Quando chegasse a casa ia passar tudo a computador para mandar por e-mail para o irmão que, por morar longe, não podia estar ali. É de se tirar o chapéu, sim senhora. E pensar que há aqueles de 40 anos que nem um ficheiro sabem anexar a um e-mail... Há tempos, esta mesma senhora, fundou uma associação de combate à solidão na terceira idade. Ela, melhor que ninguém, é capaz de encantar e tornar uma tarde melhor, só com as suas histórias. A prova de que há pessoas maravilhosamente válidas e que a idade é mesmo um pormenor que pouco ou nada interessa.

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