sábado, 4 de dezembro de 2010

Já estou mais descansada...

A minha filha mais crescida nunca mordeu, nem na escola, nem em casa, nem aos amigos do mesmo tamanho, nem aos crescidos. Já ele, até há 15 dias, o mais pequenino cá de casa, digamos que volta e meia, meia volta, lá morde. Felizmente, até agora, só cá em casa, à mana, aos pais, às almofadas, a tudo o que mexe e não mexe, mas pelo menos na escola não. De qualquer das maneiras, gosta de levantar a mão, aos amiguinhos da escola também, e isso anda a preocupar-me. Raça do rapaz é torto, ando sempre a dizer. Mas, ontem, na reunião da sala dele, foi distribuído este artigo, que me deixou bem mais descansa. Afinal, o meu príncipe não é violento, mas curioso face ao meu envolvente. Quero acreditar que sim!
Fica aqui disponível para os pais que também procuram entender melhor o universo infantil...


Morder…
Uma coisa muito comum nas Creches – mas que costuma provocar muita preocupação nos pais – são as mordidelas. Principalmente no período de adaptação, em que, além da maioria das crianças estar a viver a sua primeira experiência social extra-familiar, os grupos estão em fase de formação, de “primeiras impressões”, ou em situações de entrada de crianças novas para a sala, as mordidas quase sempre fazem parte da rotina diária das crianças. Não é fácil lidar com esta situação, tanto para os pais (é muito doloroso receber o filho com marcas de mordida!) , quanto para nós, Educadores (que nos sentimos impotentes, na maioria das vezes, sem conseguir impedir que elas aconteçam).
É importante pensarmos sobre este tema; Por que é que as crianças pequenas se mordem umas às outras e às vezes até a si mesmas? Expressão de agressividade? Violência? Stress? Sentimento de abandono?
As crianças pequenas geralmente mordem para conhecer. Para elas, tudo o que as cerca é objecto de interesse e alvo de curiosidade, inclusive as sensações. O conceito de dor, por exemplo, é algo que vai sendo construído a partir das suas vivências pessoais e principalmente sociais, e não é algo dado á priori.
Mordendo o outro, a criança experimenta e investiga elementos físicos, como a sua textura (as pessoas são duras? São moles? Rasgam? Partem?), a sua consistência, o seu gosto, o seu cheiro; elementos “sexuais” (no sentido mais amplo da palavra), na medida em que morder proporciona alívio para as suas necessidades orais (nelas, a libido está basicamente colocada na boca) e ainda investiga elementos de ordem social, isto é, que efeitos esta acção provoca no meio (o choro, o medo ou qualquer outra reacção do amiguinho, a reprovação do Educador, etc).
É claro que, vencida esta primeira etapa de investigação, algumas crianças podem persistir em morder, seja para confirmar as suas descobertas ou para “testar” o meio ambiente (disputa de poder, questionamentos de autoridade, etc). Ou ainda, pode ser uma tentativa de defesa: ela facilmente descobre que morder é uma atitude drástica. Raramente a mordida é um acto de agressividade, e muito menos de violência, a não ser que estejam a viver alguma situação de intenso stress emocional em que todos os demais recursos estejam esgotados.
Com o passar do tempo de trabalho em grupo, o Educador tem a possibilidade de planear as suas acções e estratégias no sentido de fazer com que as crianças possam reflectir, sobre esta questão.
Artigo da Psicopedagoga Claudia Sousa

Nenhum comentário: