quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Solidão

Acho que deve ser das piores coisas da vida: viver só sem ninguém para partilhar as coisas mais básicas do dia. A reportagem de ontem, que deu em todos os noticiários e com certeza todos viram, da uma idosa morta há nove anos em casa e que só foi encontrada pela penhora que as finanças colocaram na casa, que levou ao leilão da mesma e consequência venda, chocou-me. Obviamente que me choca por durante estes nove anos ninguém ter procurado por ela (à excepção da vizinha que tanto pediu às autoridades para arrombarem a porta), mas o que penso é nos tempos dela ainda viva. Quantos natais não terá passado ali sozinha, sem qualquer telefonema. Quantos aniversário celebrou sozinha, sem ninguém para lhe dar um abraço. Quantas gripes ultrapassou sem que houvesse quem lhe preparasse um chá quente. Deve ter chorado tantas vezes esta indiferença do mundo. Deve ter morrido tão triste. Por coincidência, ou talvez não, a RTP1 passou ontem à noite o filme “A nossa casa”, tão igualmente comovente. Uma mulher rica, com uma casa gigante de 7 quartos, mas à qual não chamava lar porque não tinha gente lá dentro. Encheu de vida quando aceitou um conjunto de sem-abrigo. Ela precisava de companhia, de ouvir histórias de gente a sério. Eles precisavam de um tecto, de comida, mas sobretudo de alguém que se interessasse por eles. São histórias simples, mas que mostram a complexidade da vida de hoje em que ninguém dá atenção a ninguém. Porque não há tempo. Porque não há valores. Tenho medo da solidão. Não a quero para mim, não vou permitir que aconteça aos que me são chegados. Nunca.

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