quinta-feira, 6 de março de 2014

O voluntariado começa em casa

Um dia, em entrevista à Fernanda Freitas, jornalista que admiro, a propósito da solidariedade, dizia-me ela que o voluntariado começa em casa. Há sempre algo que podemos fazer mais em prole da nossa família, dos nossos vizinhos, da nossa urbanização e até da nossa rua ou bairro. Aliás, com a quantidade de desempregados que há, bem que podia estar tudo mais arranjadinho, mas, descontentes como as pessoas estão, não sobra ânimo para fazer mais e melhor. É uma espécie de bola de neve: se ninguém nos ajuda, se todos nos anulam na sociedade, nós também não vamos ajudar... Não podemos condenar.
Quando a Matilde foi operada, em Outubro, decidi que queria mesmo tornar-me voluntária, Falei com a educadora do piso onde ela estava, trocámos ideias, mas ainda não concretizei a minha inscrição. É algo grandioso e de muita responsabilidade. Mas, de repente (e porque vivo longe e tenho três crianças muito pequenas que obrigam a muito trabalho) comecei a pensar que podia fazer voluntariado sim senhora, mas começar com alguém de dentro: com a minha avó. Que sentido faz preocupar-me em levar alegria a quem está doente e não conheço, quando tenho uma avó que tanto fez por mim e agora passa os seus dias tão só? A solidão a mim faz-me toda a confusão. Pensar em alguém só, sem ninguém para partilhar a mais insignificante das coisas do dia-a-dia, entristece-me. Logo eu que adoro pessoas e estar rodeada delas. Na segunda-feira peguei nos meus miúdos e fomos todos visitar a vovó, como eles carinhosamente lhe chamam. Foram mascarados e levaram alegria àquela casa sempre tão sossegada. Não sei quem ficou mais feliz: se ela, se as crianças ou até se eu! Vê-la tão feliz por receber visitas fez-me tão bem. Fez-nos tão bem! Quase todas as semanas estou com a minha avó, senão em casa dos meus pais, em minha própria casa onde ela vem muitas vezes. Mas ir a casa dela, ela receber visitas, isso já há muito que não acontecia e isso faz toda a diferença. A minha avó tem um feitio muito especial e não gosta muito de ser apaparicada, mas como qualquer pessoa gosta de receber carinho dos seus. Sei que não posso ir lá todos os dias, que ela adora a sua independência e zangava-se de eu estar sempre ali. Mas tenho muita vontade de ir lá regularmente. De lhe levar um bolo, de lhe mostrar novas fotografias, de apenas conversar um bocadinho. Enfim, estar ali para ela.
Sem carro, sem saber ler nem escrever e sem nunca se queixar do trabalho que dois netos davam, a minha avó levou-me a todo o lado: ao cinema no Tivoli, onde vimos os clássicos Disney, ao circo no Coliseu, à Mata de Benfica onde sabia tão bem correr e lanchar... Fez isso tudo sempre com um sorriso e ainda hoje se derrete com os meus filhos. Na segunda-feira deixou-os brincar com tudo e procurou chocolates para lhes dar! Não se cansou de elogiar "a grande surpresa" que lhe fizemos! Um mimo só! Cheguei a casa tão mais feliz por isso... Darmo-nos aos outros é mesmo o melhor que podemos fazer!
E fica combinado, aquela que foi uma visita surpresa fica já transformada numa visita de rotina. Até já!

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